Arquitetura hostil: O que é, causas e consequências
A arquitetura hostil reforça desigualdades e impacta a vida de grupos vulneráveis. Saiba mais sobre as causas, consequências e alternativas para ambientes mais acolhedores. Continue lendo para entender melhor!
O espaço público é um local que pode e deve despertar o bom convívio entre a população.
Sendo assim, sua configuração e os elementos físicos desempenham um papel importante.
Eles estão ligados à capacidade de uma cidade de acolher e receber todas as classes sociais de forma positiva.
Porém, em certas áreas, a arquitetura hostil é evidente, já que são criadas distinções entre as diferentes classes da população.
Quem mais sofre nesse caso são as pessoas mais vulneráveis.
Pensando nisso, neste post, abordaremos assuntos ligados ao papel dos ambientes no bem-estar social.
Quer saber mais? Continue a sua leitura!
O que é arquitetura hostil?
A arquitetura hostil também é conhecida como arquitetura agressiva ou arquitetura de defesa.
Dessa forma, ela nada mais é do que um conjunto de práticas de design urbano que visam prevenir ou afastar certos comportamentos e grupos de pessoas.
Portanto, as intervenções físicas usadas na construção civil desses locais tornam o espaço desconfortável, desagradável ou inacessível para aqueles que não são considerados parte do público-alvo.
Entre a população mais afetada, podemos citar:
- moradores de rua;
- jovens;
- outras populações marginalizadas.
Esses espaços urbanos intencionalmente dificultam a permanência desses indivíduos nos locais.
Quais são os melhores exemplos de arquitetura hostil?
Os projetos hostis estão frequentemente associados ao controle social e à exclusão de classes. Separamos abaixo alguns exemplos notáveis desse tipo de arquitetura. Veja!
Bancos com divisórias
Os bancos situados em praças e áreas públicas muitas vezes possuem divisórias de metal ou madeira.
O maior objetivo dessa barreira é impedir que as pessoas se deitem ou fiquem por longos períodos dormindo ou utilizando-os como cama. Essa é uma forma de excluir os sem-teto.
Pisos irregulares ou aglutinados
As calçadas com pisos irregulares, com pedras em formato desconfortável, como picos ou formas geométricas, também dificultam o repouso.
Isso diminui as chances de os moradores de rua se instalarem em certas regiões.
Paredes ou cercas com espinhos
Em algumas cidades, podemos ver cercas e espinhos em grande quantidade, além de muros com objetos pontiagudos em áreas residenciais ou comerciais, como picos de metal.
Dessa maneira, a estratégia reduz as possibilidades de pessoas estranhas saltarem as barreiras e acomodarem-se no interior dos imóveis.
Iluminação excessiva
Locais com muita iluminação se tornam desconfortáveis para quem deseja descansar durante a noite, além de expor quem pretende dormir aos que passam nas proximidades.
Portanto, manter os ambientes iluminados é uma maneira de afastar quem está buscando espaço ao ar livre.
Cadeiras e espreguiçadeiras feitas para evitar ocupação prolongada
Existem cadeiras em praças e parques que não são projetadas para as pessoas se acomodarem confortavelmente.
Projetos assim visam tornar difícil ou impossível ficar em uma posição agradável por muito tempo. Esses assentos têm braços altos ou design desconfortável.
Mobiliário urbano antijovens
Os bancos das áreas públicas recebem designs que visam especificamente prevenir que grupos de jovens se reúnam para fazer festas.
Ou seja, as cadeiras hostis são fixas, possuindo picos ou design específico para evitar aglomerações.
Qual é o panorama da arquitetura hostil no Brasil?
No Brasil, a arquitetura hostil tem se manifestado principalmente nas grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Esse tipo de arquitetura pode ser visto frequentemente em áreas de grande circulação ou com presença de desabrigados.
Dessa forma, a disputa pelo espaço público é um dos fatores mais críticos, com grupos sociais marginalizados sendo cada vez mais excluídos desses locais devido ao aumento da vigilância urbana e das práticas de urbanismo defensivo.
Como essas práticas impactam a sociedade?
A arquitetura hostil tem consequências profundas na vida de algumas pessoas, como jovens de periferias, imigrantes, indivíduos com menor poder aquisitivo e pessoas com deficiência.
Por isso, separamos abaixo alguns exemplos de impactos dessa prática. Confira!
Arquitetura contra moradores de rua
Primeiramente, as práticas mencionadas acima geram exclusão social. Sendo assim, ao criar espaços que fisicamente excluem certos indivíduos, a arquitetura hostil contribui para a marginalização e o estigma desses grupos.
Violação dos direitos humanos
Pode-se ver o uso de design arquitetônico para “expulsar” ou marginalizar pessoas como uma violação do direito à cidade e ao espaço público, essencial para a convivência e a cidadania.
Aumento da desigualdade social
Ao invés de criar soluções inclusivas e integradoras, a arquitetura hostil reforça as divisões sociais.
Ela constrói uma separação entre os que podem e os que não podem ocupar certos espaços.
Implicações éticas e sociais
A prática de arquitetura hostil levanta sérias questões éticas e sociais. Entre elas, podemos citar:
- desumanização: ao transformar o espaço público em um ambiente que busca expulsar pessoas, há uma desumanização daqueles que são marginalizados;
- injustiça social: pode-se ver a arquitetura hostil como uma forma de controle social, em que as instituições buscam regular quem tem o direito de ocupar e viver na cidade.
Por isso, uma maneira de acabar com esse tipo de discriminação é, ao invés de construir espaços que excluam, adotar soluções como programas de acolhimento e políticas públicas que promovam a inclusão social e o apoio a grupos vulneráveis.
Quais são os outros problemas que podem ser causados pela arquitetura hostil?
Existem muitas adversidades que podem ser causadas pela arquitetura agressiva. Veja a seguir algumas delas:
- falta de soluções sustentáveis: a arquitetura hostil não resolve os problemas sociais de forma estruturada, apenas os adia;
- desperdício de recursos: em muitos casos, pode-se redirecionar os investimentos para os programas de habitação, saúde e educação;
- impacto psicológico: os indivíduos afetados frequentemente enfrentam sérios desafios psicológicos devido ao estigma e à discriminação social.
Em muitas cidades, isso pode gerar tensão e violência entre diferentes grupos sociais, envolvendo inclusive os moradores de rua e agentes de segurança pública.
Quais são as causas da arquitetura hostil?
As principais causas da arquitetura hostil podem ser atribuídas a interesses econômicos e segurança. Alguns dos fatores mais comuns são:
- higiene e estética urbana;
- interesses comerciais;
- normatização social.
Em conclusão, a arquitetura hostil também reflete uma visão da sociedade que não aceita a diversidade de comportamentos e a presença de indivíduos em situações de vulnerabilidade.
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais aprovou o Projeto de Lei 3.449/22, que proíbe o uso de técnicas de arquitetura hostis em espaços públicos do estado.
Ademais, essas práticas incluem disposições que estimulam a permanência de pessoas, especialmente aquelas em situação de rua.
A medida visa promover uma cidade mais inclusiva e acolhedora, além de combater a marginalização social e a aporofobia, que é a aversão aos pobres.
Embora a arquitetura hostil possa ser vista como uma tentativa de controlar e organizar o espaço urbano, suas consequências são amplamente negativas para os grupos mais vulneráveis.
Portanto, a prática revela um conflito entre as necessidades de conforto e segurança de uma parte da população e o direito de outra parte à cidade e ao espaço público.
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